Foram estas as palavras que nos tiraram o chão....
Tive uma gravidez tranquila, desejada, queríamos muito dar uma irmã à nossa Matilde. Fiz todos os exames previstos durante a gravidez mas nenhuma ecografia ou mesmo o teste bioquímico fizeram sugerir alguma alteração.
No momento de decidir o local do nascimento, optamos pelo hospital público onde trabalhava o meu obstetra. O parto correu muito bem e poucas horas depois fomos para a enfermaria. Lembro-me de passar pelas outras grávidas e pensar orgulhosa: "eu já tenho a minha linda bebé"!
A enfermaria onde ficamos tinha três camas, estava cheia mas isso não me incomodava... Passei a noite a adorar a minha pequenina, tão frágil, tão minha...
No dia seguinte de manhã, como habitual, decorria a visita de pediatria, o pai já estava comigo. A Maria Francisca foi a primeira a ser avaliada, primeiro por uma pediatra, depois outra e outra. Observaram uma e outra vez e o meu aperto no peito crescia a cada segundo... Até que uma delas se encostou à janela junto à minha cama e virada de frente para as outras mães e pais nos diz "bem, nós achamos que a vossa bebé tem Trissomia 21, sabem o que é?" Informaram que tinham dúvidas porque ela apresentava apenas algumas características típicas de T21e teria então fazer uma análises para haver certezas. Tiraram-nos o chão e foram -se embora. O sonho vivido durante nove meses parecia um pesadelo e não víamos forma de acordar! Queríamos tanto chorar, conversar, nos abraçar mas tivemos que conter muito do nosso sofrimento porque tínhamos plateia, não havia sequer uma cortina naquela enfermaria e eu sentia-me tão observada... Um bem-haja apenas à enfermeira C, que acompanhou o parto, pela sensibilidade e pelo apoio. Lembro-me integralmente da nossa conversa, a única que me deu esperança durante aqueles dias. Obrigada pelos abraços nos dias que se seguiram!
E esses dias foram de muita dor, muitos medos, muitas lágrimas... Não contamos a quase ninguém, não tínhamos certezas. E se fosse erro de diagnóstico? Para quê preocupar toda a gente? E eu tinha tanto medo que a família não aceitasse ou até mesmo tivesse vergonha. Pensamos em cada coisa! Estamos rodeados de uma família e amigos que amam a Francisca, creio que até mais do que amariam sem o cromossoma a mais....
Uma semana depois tivemos acesso ao resultado. Positivo. Entretanto já tinha conversado com uma amiga que trabalha com pessoas com Trissomia 21 que me deu muito alento e mostrou que o "diagnóstico" não é uma fatalidade, mostrando-me exemplos concretos. Apresentou-me outra mãe e sinto que aí ganhei uma amiga para a vida! Obrigada a voçes, pois de outro modo seria mais difícil!
O lema a partir daí passou a ser "acreditar", acreditar que ela é capaz, que consegue alcançar todas as metas, acreditar que vai ser autónoma e feliz...
Trabalhamos muito com ela diariamente mas todo o trabalho compensa e ela corresponde!
Eu acredito, nunca desisto <3
Obrigada aos que acreditam connosco.