Pensei muito se escreveria sobre este tema mas não fui a primeira nem serei a última mulher que engravida sem querer e se puder com isto dar ânimo a outras mães, já valeu a pena!
Tinha 21 anos, uma enorme vontade de acabar o curso e aproveitar a minha independência. Namorava há um ano com o Miguel e tínhamos muitos planos para o futuro próximo, ter filhos e casar seria a longo prazo. Os meus pais fizeram um esforço económico muito grande para eu poder ir para a faculdade e o meu objectivo era com os meus primeiros salários pagar-lhes uma viagem! Mas quis o destino que o presente fosse outro.
Naquele dia sentia-me estranha e por já haver algum atraso fui com uma amiga à farmácia comprar um teste de gravidez. Na verdade achei que não seria nada mas... Deu positivo! Fui comprar outro e embora me explicassem na farmácia que não havia falsos positivos, eu quis comprar e voltar a fazer. Claro que deu positivo novamente. Eu não reagi, só pensei que iria desiludir os meus pais e deitar por terra o orgulho que sentiam em mim. E os meus planos para o futuro? E o que iriam falar as outras pessoas, principalmente as da minha aldeia? (Essas falaram de facto e coisas horríveis, feliz ou infelizmente soube de muitas, mas hoje é um beijinho no ombro para elas). Crescer num meio pequeno tem destas coisas...
Mas avançando....
Tinha de contar ao Miguel... nesse dia à noite contei-lhe. Choramos muito os dois, não sabiamos o que fazer, eu cheguei a pensar em não avançar com a gravidez mas ele nunca me deixou. Na verdade eu não o iria fazer por mim e seria um erro muito grande que traria danos irreversíveis na minha vida.
Decidimos casar, não tivemos dúvidas, ele prometeu que tranalharia e que teríamos o necessário. Mas falatava o pior... contar aos nossos pais...
A maneira mais facil de o Miguel contar aos pais foi dizer-lhes que não iam ter um neto, mas sim dois ( a irmã dele já estava grávida). Parece que se riram e choraram ao mesmo tempo... não correu mal!
Faltava eu! Pedi ajuda à minha irmã. O meu pai trabalhava até as 22h e a minha irmã foi lá a casa dizer à minha mãe que quando o meu pai chegasse queria falar com ambos. Claro que a minha mãe fez várias pergunas para tentar adivinhar o assunto e eu não aguentei e comecei a chorar. Ela percebeu. Eu disse que queria ter o bebé e casar, ela nunca me negou a vontade mas disse-me que preferia que eu estivesse solteira e feliz do que casada e infeliz, e que me ajudaria a criar o meu bebé. Na verdade ela não conhecia muito bem ainda o Miguel e preferiu que eu tivesse bem a certeza do que eu queria. E eu tinha, queria casar e constituir a minha família!
Nos dias seguintes andei a fugir do meu pai, até que um dia não o consegui evitar e ele disse-me que nao precisava de fugir e que ia ajudar-me em tudo o que pudesse. E ajudou-me sim, deu-me um sítio para viver e garantiu que eu terminasse o curso.
Apesar de estar feliz com a gravidez havia uma parte de mim que estava a gerir a tristeza de ver por água a baixo todos os planos que tinha feito para a minha vida, o esforço que sempre fiz e o objectivo de ter uma vida melhor.
Casei, não foi o casamento dos meus sonhos, com o vestido dos meus sonhos, mas foi com o mais importante: o homem dos meus sonhos.
A Matilde nas nasceu e no momento em que a puseram nos meus braços eu soube o propósito de tudo! Ela tinha de ser minha e foi realmente o melhor que me aconteceu na vida. Tive de lutar muito, muito mais, tive de criar um filho e gerir uma familia apenas com um salário mínimo, tive que crescer e aprender muito sobre maternidade, doenças internamentos e convulsões. Mas em contrapartida ganhei muito mais, aprendi muito sobre amor e amizade.
E a lição final, mas a maior de todas é que nada na vida acontece por acaso.