Isto não é um artigo científico, é a opinião e o relato de uma mãe que dia a dia, ano letivo a ano letivo, luta contra as dificuldades inerentes a uma criança com défice de atenção.
Desde a pré-escolar que me diziam que a Matilde não se concentrava, não era capaz de levar uma tarefa até ao fim, que se distraía com dificuldade e que a primária poderia não correr bem. Desde logo eu afirmei que não lhe iria dar medicação e ela foi encaminhada para consultas de psicologia que concluíram apenas alguma imaturidade para a idade.
Entrou no primeiro ano e as queixas repetiam-se. Não estava atenta, estragava material, distraía-se com uma mosca...
No 2º ano a preocupação da professora era que ela fosse avaliada e trouxesse um relatório para justificar o insucesso escolar e, dessa forma, ressalvar-se enquanto profissional. Mas o que me preocupava verdadeiramente eram as dificuldades da minha filha, a sua auto-estima e auto-confiança que eram cada vez menores e eu sentia que tinha de agir.
Dei a mão à palmatória e aceitei consulta com a pedopsiquiatra e psicóloga que me deram o diagnostico de défice de atenção, sem hiperatividade Pedi mais do que uma opinião e todas eram consonantes. .
E aí entrou a medicação à qual eu tanto resisti. Inicialmente tentamos uma que não deu efeito e prolongaram-se os meses de insucesso, depois mudamos para outra à qual ela reagiu muito bem e o aproveitamento escolar melhorou significativamente e, por conseguinte e mais importante de tudo, a sua auto-confiança e auto-estima. A par disso mudei-a de escola porque o horário que tinha era da parte da tarde o que não era adequado para uma criança com défice de atenção e então as coisas passaram a correr muito melhor!
Agora no 5º ano, uma nova adaptação. Mantém-se a distracção, a dificuldade de memorização, o não saber onde deixou a carteira, o guarda-chuva, o cartão de acesso ao refeitório... Coisas normais de uma criança mas que com a agravante do défice de atenção se intensificam ainda mais. Às vezes sinto que a minha filha é uma incompreendida, e contra mim falo, mas sei que ela tem realmente dificuldades, temos de ter calma e aceitá-las. O insucesso escolar preocupa quaisquer pais mas a insegurança e baixa-auto-estima muito mais!
A medicação não faz milagres, ajuda, mas é necessário muito trabalho por trás, é preciso estudar com ela em casa aos domingos em vez de ir passear, é preciso fazer serões na véspera dos testes, é preciso tê-la num centro de estudos que a aceite tal como é e que trabalhe as suas dificuldades.
Com este trabalho todo acabou o 1º período com nota positiva a todas as disciplinas, sem testes adaptados. Enquanto conseguir resultados positivos sem adaptação nos testes assim os fará, se não conseguir cá estarei para lutar por esse direito.
Para entenderem, falando mais cientificamente, as crianças desatentas apresentam dificuldade em manter a concentração em determinadas tarefas, não prestam atenção aos detalhes, parecem não entender as ordens ou instruções dadas, perdem objetos e distraem-se facilmente com estímulos sem importância.
É uma perturbação do desenvolvimento caracterizada por um grau de desatenção inapropriado para a idade da criança, à qual se pode associar, ou não, hiperatividade e impulsividade.
Ocorre em diferentes contextos sociais, perturbando o desempenho da criança a nível pessoal e académico, sendo as principais consequências dificuldades de aprendizagem e problemas comportamentais. A causa é multifatorial, envolvendo fatores orgânicos (origem neurobiológica), genéticos e ambientais.
Antes de julgar, e para conseguir ajudar estas crianças, é necessário compreender a situação.