sábado, 18 de abril de 2020

O medo das consequências do isolamento












Confesso que nos últimos dias tenho vivido com algum nervosismo e ansiedade a pensar no desenvolvimento da Francisca.
Se por um lado desejo muito que tudo volte à normalidade e que ela retome todas as suas atividades (fisioterapia,  terapia ocupacional, estimulação cognitiva e motora, infantário) sei que mesmo que as coisas reabram gradualmente não é seguro recomeçar de imediato porque a doença não se vai erradicar de um momento para o outro, e pôr a saúde dela em risco para mim está fora de questão. 
Decidi que pelo menos até setembro ela não retoma nenhuma atividade, incluindo infantário,  mas o medo de que ela regrida é muito grande e sinto em mim a responsabilidade de garantir que isso não aconteça. 
Vou trabalhando com ela em casa, procurando fazer algumas atividades, mas não consigo fazê-lo o tempo todo porque também trabalho e porque ela não está predisposta a trabalhar comigo a toda a hora. A televisão e o telemóvel são tentadores quando tenho de trabalhar ou fazer alguma coisa, mas assusta-me este facilitismo ao qual eu cedo muitas vezes porque não me consigo desdobrar e ela não brinca sozinha por muito tempo. Não sei se serei a única mas eu não posso brincar com ela a toda a hora e além das terapias em casa que nos levam cerca de duas horas diárias, se eu fizer mais umas atividades por meia hora, sobra muito tempo das 14 horas em que ela está acordada. E não podemos ir à rua, ou não devemos e quando saímos eu fico super stressada porque ela mete as mãos no chão, depois passa na cara e eu só vejo o coronavirus nesses momentos, é um stress... Não podemos ir à praia, não podemos convidar um amiguinho ou família para vir cá brincar e portanto sinto que não lhe estou a dar tempo de qualidade, de aprendizagem, como ela teria em todos os contextos não fora este confinamento.
Depois na verdade eu não sou terapeuta e tenho pouca imaginação mas vou lá vou tentando inovar com algumas dicas que me têm dado. Se ela adere sempre? Por 5/10 minutos... o que é uma frustração...
Talvez muitos pais não sintam esta preocupação ou pressão  mas os pais de crianças com necessidades especiais entenderão, penso eu, a minha ansiedade. E já nem sei se sou eu já a ver coisas onde não existem mas acho que ela já regrediu na fala, quer falar tudo ao mesmo tempo e baralha-se toda!
Eu vou continuar a dar o meu melhor, na incerteza se será o suficiente!! 

domingo, 12 de abril de 2020








E assim passamos uma Páscoa  diferente mas igualmente especial. O que retiro deste desafio que se impõe é que podemos ser felizes com pouco e que  havendo saúde, depende de nós criarmos bons momentos. Depende muito da forma como encaramos o que a vida nos apresenta e embora tendo os meus momentos de ansiedade e medo, vou tentando adaptar-me ao que me é apresentado.
Claro que preferia ter estado com a família mais alargada e viver a tradição como sempre, mas não deixamos de viver um dia especial, com muita conversa,  brincadeira, um dia mais calmo e também de reflexão.
Hoje recebi uma mensagem muito especial de Boa  Páscoa que me dizia para fazer  renascer vezes sem conta o que de melhor tenho. Isto fez-me imenso sentido e é mesmo isso que eu quero fazer acontecer e é o conselho que quero aqui deixar.
Espero sinceramente que depois desta fase saiamos todos pessoas melhores, mais amáveis com o outro, mais educadas e que saibamos fazer um exercício muito difícil que tento sempre  adoptar em todos os parâmetros da minha vida: saber colocar no lugar do outro. E este  exercício não deve ser feito só agora em que vemos por exemplo enfermeiros, médicos,  bombeiros, auxiliares de ação direta e todos aqueles que saem de casa para trabalhar na linha da frente e pensar: que guerreiros! Se sentimos verdadeiramente isso é porque temos de alguma forma capacidade para nos colocarmos no lugar deles e pensar que se sacrificam a si, às suas famílias e põe em causa a sua saúde para garantir cuidados a quem precisa deles. Mas lembrem-se, eles ja faziam isso antes, dia após dia, noite após noite e havia quem não valorizasse, e ainda há quem trate com desdém e má educação (sei do que falo). 
Mas concluindo,  não querendo ser chata com esta minha reflexão, quero transpor para vocês o conselho que me foi dado: façam renascer vezes sem conta o que de melhor há em vocês e aproveitem esta quarentena para se trabalharem interiormente e tornarem-se pessoas melhores porque há sempre algo a melhorar.
Que no fim, além de ficarmos todos bem, fiquemos também melhores pessoas. O mundo precisa de menos rancor, menos ódio, menos stress,  menos inveja, menos maldade e mais amor, mais empatia, mais solidariedade, mais perdão.