quarta-feira, 13 de maio de 2020

As mudanças para as quais a quarentena nos levou


O céu é o limite!




Como vos disse ontem, esta quarentena trouxe uma mudança muito grande para nós, uma decisão que foi muito difícil de tomar, que me tirou algumas horas de sono, me fez deixar cair muitas lágrimas, me trouxe um aperto no peito mas depois de tomada a decisão, já não olho para trás. 
Estar em casa em teletrabalho e com as miúdas tem sido um grande desafio e procurei, especificamente no caso da Francisca, proporcionar-lhe atividades de estimulação que lhe permitisse desenvolver ou, pelo menos, não regredir. Mas deparei-me com duas grandes dificuldades, a primeira (e maior)  é que a Francisca não estava motivada para trabalhar comigo, eu não estava sempre disponível para lhe criar um ritmo diário de trabalho porque eu não tenho horários e acabávamos as duas irritadas e frustradas. 
A outra dificuldade é que eu não sou terapeuta, não tenho conhecimentos para saber, num caso específico de atraso de desenvolvimento, quais os factores a trabalhar primeiro, qual a sequência suposta e prevista nas aprendizagens, que caminho seguir. Mas sabia que a minha filha precisava de mais estimulação, verifiquei por mim que tinha dificuldades em muitas àreas para as quais eu não estava desperta e que de facto isto foi confrontar-me com uma situação antagónica ao que eu até então ouvia de todos e eu própria queria reter, que é : a Francisca está muito bem. E está, mas há muito a trabalhar, a melhorar, a preparar antes da entrada na escola. Não consegui fazer esta constatação e não sentir um profundo sentimento de culpa por não ter dado mais, por ter relaxado e pensado que tudo o que já fazia era o suficiente e já exigia tanto de mim...


O mundo das terapias é muito vasto, não há um método que seja infalível, mas também sou de opinião que não há um método tão completo a nível de estimulação psicomotora como o método Doman. Contudo, há competências que a escola e a vida exigem que eu, por motivos de tempo, não estava a contemplar na estimulação da Francisca e aqui tive de fazer opções. Não posso, por vários motivos como a gestão do tempo meu e da Francisca (porque ela também tem de ser criança), conciliação das terapias e os seus elevados custos, manter dois métodos que na prática se poderiam complementar mas que não seria justo nem para nós pais e muito menos para ela querermos acumular mais um método de intervenção. Assim, depois de muito refletir e ter a certeza que o método Doman trouxe muitas vantagens daquilo que é a sua linguagem, compreensão, destreza motora, está agora na hora de trabalhar competências mais específicas de preparação para a escola e, consequentemente, para a vida.  Assim, parámos com o método Doman, deixamos para trás 5 anos consecutivos de um trabalho árduo nosso e das terapeutas, que nos deu frustrações mas acima de tudo muitas conquistas,  e a Francisca será agora acompanhada por uma psicomotricista especialista em reabilitação psicomotora do Centro de Desenvolvimento Infantil do Porto. Este será uma acompanhamento semanal feito pela psicomotricista que nos dá, semana a semana, elementos para trabalhar com ela com base nas suas necessidades e potencialidades.  Eu senti necessidade de ter alguém que me orientasse e que nos desse um acompanhamento contínuo e ao conversar com uma amiga a quem recorro sempre acerca das minhas ansiedades sobre a Francisca, porque ela sabe exatamente por experiência o que sinto, ela deu-me a indicação desta psicomotricista e eu estou muito confiante e o caminho acredito que seja este!
Talvez nem todos consigam entender a dimensão que esta decisão tem para nós mas acreditem que é grande, difícil, mas necessária e estamos confiantes. Como disse em cima, já não olho para trás.
A Francisca vai manter assim a fisioterapia( mas só a partir de setembro), a estimulação em casa e o infantário a tempo inteiro que lhe acrescentará também muito de positivo porque confio a 100% no trabalho e cuidado da educadora.

E pronto, posso dizer-vos que foi esta a maior aprendizagem da quarentena, a constatação de que às vezes é necessário parar, avaliar, olhar de frente as necessidades dos nosso filhos e tomar decisões que apesar de difíceis, são necessárias.

Pelo feedback que me chegou a querentena também vos trouxe mudanças positivas a nível de desenvolvimento pessoal, auto-conhecimento e até prática de um desporto ou atividade que descobriram vos dar bem-estar. Fico muito contente por isso, que saibamos sempre retirar das coisas negativas algo de bom.