quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Era minha, eu amava-a, tivesse ou não trissomia 21

 





Daqui a 9 dias, 6 anos. 

Devem estar a perguntar-se porque estou a relembrar todas estas memórias. Os seis anos são especiais para nós, logo irão perceber porquê. 


Dia 14 de fevereiro de 2015. Dia dos namorados!

Acordamos, o Miguel chegou e pouco depois começou a ronda dos pediatras. Veio primeiro uma interna, observou, auscultou, observou, auscultou... saiu. Volta passado instantes com mais duas pediatras e observaram-na novamente dos pés à cabeça. 

A dada altura comecei a não achar normal e perguntei se estava tudo bem. A resposta veio a seguir, da forma pouco humana que já sabem. Havia suspeita de trissomia 21 e só com análises teríamos certezas, podendo ter de esperar mais de duas semanas. 

 O meu coração parou, o mundo desabou, as lágrimas não paravam de escorrer pelo rosto. As perguntas vieram... "Como é que é possível?" "Porquê nós?". Lembro-me de pensar que não merecíamos o que nos estava a acontecer, mas a dor que sentia não era por mim, era por ela! Todos os pais desejam que os filhos sejam saudáveis e que possam ter uma vida feliz, sem dificuldades significativas. Atrevo-me a dizer que todos os casais que pretendem ter filhos perspectivam uma vida tranquila, mágica, no mínimo uma vida que corre num percurso "normal". 

As pediatras saíram 2 minutos após terem-nos dado a suspeita da trissomia e logo de seguida vem a enfermeira ensinar-nos a dar banho. Mas alguém julgava que eu estava capaz de ouvir o que quer que fosse que ela tivesse para me ensinar? Tive que lhe dizer que não conseguia. 

Ao mesmo tempo que chorava, abraçava e prometia à Francisca que ia cuidar o melhor possível dela, e que ia fazer os possíveis e impossíveis para ela ser capaz de tudo aquilo que ela quisesse...  Lembro-me de querer tanto sair dali, estar no meu canto, abraçar o Miguel, conversar do que quisesse sem ter outras pessoas que nem conhecia a ouvir.... 

Não contamos aos nossos pais e a quase ninguém, queríamos ter certezas para evitar que se preocupassem. Contamos a uma irmã do Miguel, à minha irmã e a uma das minhas melhores amigas. Queríamos ter certezas para evitar que se preocupassem. Foram o nosso apoio nos três dias que se seguiram, ouviram e sentiram a nossa angústia, choraram connosco.

A noite chegou, estava cansada, adormeci cedo. Passado um pouco a Enf. C., que assistiu ao parto , um anjo, veio conversar comigo, dar-me alento, contar-me exemplos que me encorajaram e dar-me um abraço. São atitudes que nunca se esquecem e que não têm preço! 

Voltei a adormecer e a resposta para a minha pergunta do "porquê eu" começava a surgir, foi porque Deus e ela nos escolheram e ambos achavam que íamos estar à altura!


















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